Entre os sonhos há
um areal inóspito de sono.
Uma obscuridade reparadora
de cansaços plurais.
Um vazio cheio de segredos
que retemperam forças:
hábeis utensílios operadores
de milagres desconhecidos.
Entre os sonhos surgem
oportunidades indeléveis
de voltarmos a ser caminho
quando à frente se levanta
a mão do sinaleiro mais negro.
Fátima Nascimento
As asas não são asas,
O vento não é vento,
As casas não são casas,
Vencer é o pensamento.
A dor não é dor,
É sinal de sofrimento,
Amor é só amor,
Se ultrapassa o pensamento.
A amargura das palavras
O sentir profundamente,
Que há ainda muitas lavras
Para semear no presente.
Um espinho em cada flor,
uma lágrima em cada linha,
Escreves com amor,
Se te leio, a dor é minha.
António Simões
6 Ago 2010
No céu do final de tarde
farto de cores vistosas
parece fogo que arde
nas mostras curiosas.
Contraste da terra escura
o grande sol sonolento
varre tons de forma impura
para ganhar novo alento.
Refrão
Faço um belo mundo novo
só do pouco que tenho
é desejo bem profundo
maior que qualquer tamanho
na vida pouco desejo
que a alegria atingida
nela ponho o ensejo
é a vontade querida.
Ao volante rumo a casa
Guiada p’lo céu sereno
onde a solitária asa
vê o sombrio terreno
A paz do dever cumprido
É bálsamo pr’a minh’ alma
olho o tempo foragido
que origina a pronta calma
Agora é nova vida
com muito amor e carinho
Pr’a trás fica a ferida
perdida no mau caminho
Não olharei pr’a trás
tenho o rumo encontrado
e as memórias más
estão no bem fundadas.
ontem as nossas vontades uniram-se
num desejo inflamado
a tua voz murmurando mundos
abertos a cada palavra
numa voz rouca de desejo
quase inaudível;
as tuas mãos deslizando pelo relevo
do meu corpo imaginado
semeando beijos molhados
e gestos esquecidos,
perdemo-nos nos sentidos
que se abateram sobre nós
como tornados abanando
os fortes alicerces
da nossa intensa união.
A noite cobriu-se de manto escuro,
A rua estacou o passo, expectante,
Os olhos, parados no Inverno duro,
Esperam o milagre resultante.
A noite abafa os incontáveis sons,
Suspende todo e qualquer movimento,
Apaga, do céu, os mágicos tons,
Elimina do ar o fraco vento.
E toda a natureza assim suspensa,
Aguarda a aguarela delicada:
A alva chuva de pétalas intensa,
Dando à terra a brancura imaculada.
Os pequenos leves e alvos flocos,
Descem repetidamente, sem pressa,
Em largas camadas, formando blocos,
Deixando a vasta terra nela imersa.
Perdi-te para sempre
nas ruas incertas da vida,
das encostas luminosas
e frias da cidade.
Perdi-te para sempre
na esquina da noite estival
onde pairam estrelas brilhantes.
Perdi-te para sempre
no choro da lua derramado
nas paredes sonolentas.
Perdi-te para sempre
no coração da saudade
iluminado pelas lágrimas secas
da dor profunda gravada
na imensidão da alma amorosa.
Perdi-te para sempre
na encruzilhada
do corpo desmembrado
e esvaziado do sentido da vida.
Perdi-te para sempre
à beira da garganta do abismo
onde a loucura ferve
e as noites se confundem com os dias.
Perdi-te para sempre
nas avenidas do amor sereno
de sombras frescas e dançantes.
Perdi-te para sempre
nas memórias gravadas no ser imortal
e guardadas no templo misterioso,
profundo e sagrado do amor inexplicável.
Perdi-te para sempre e achei-te
na compreensão incompreensível
que só o amor pode compreender.
Sim, o amor venceu…
Ergueu-se um denso nevoeiro de sombras
Esfumando a luz suave dos candeeiros
Passam os cautelosos carros rasteiros
Farejando o caminho de lombas.
Surgem fantasmas na densa brancura
Armados da grande branca cegueira
Formam a grossa, distinta barreira
Que aos olhos lançam com grande secura.
Levando aos ombros os grandes perigos
Enfrentam a densa e branca cortina
Como se fossem da frágil neblina
Os eleitos carrascos inimigos.
oh, calma incendiada
das ruas estreitas
onde a pedra talhada
se equilibra e se perde
na memória intemporal
trazida na incessante
canção do vento
murmurando silêncios
sigilosos guardados
no ventre quente da terra.
Poesia
é um sentimento
solto na brisa
uma forma que
cativa o olhar
a música que
aquece a alma
a mensagem
vibrante do ser
Outras vezes,
é um amontoado
de palavras secas
alinhadas e ornamentadas
mensagem que
morre,
em cada
letra já moribunda.
Os ponteiros do relógio
rodam, rodam sem parar
até já me sinto tonta
com tanto, tanto rodar.
Estes sons tão compassados
vão rodando as nossas vidas
e no ciclo repetido,
gasta-se a chama querida.